Há uma linha que separa.

O Operador de Call Center, o Gestor de Atendimento, o Assistente Comercial, ou seja lá o que lhe quiserem chamar, está cada vez mais na 'moda'. Seja pelo (mais) fácil acesso a este tipo de trabalho, ou porque muitos pensam que saber dizer 'boa tarde' e o primeiro e último nome significa ter perfil para este tipo de função. É certo que é uma função desvalorizada hoje em dia... talvez por este fácil acesso ou pela tão conhecida rotatividade que caracteriza esta ocupação e que, consequentemente, faz com que estas funções sejam cada vez menos bem remuneradas e tornem este tipo de trabalho precário!
Ora pois bem, confirma-se! Sim, é verdade tudo isto. Mas também não é menos verdade que é preciso ter muita estaleca, muito boa formação, boa comunicação, contenção, determinação e inteligência para se ser um bom comunicador (Sim, porque profissionais medíocres há aos pontapés!):

- Estaleca, para aguentar um dia de trabalho fechado/a entre quatro paredes a tentar impingir produtos ou serviços que somos obrigados a acreditar, ou a ouvir desgraças, reclamações e insultos dos mais variados tipos.

- Boa formação, porque somos treinados, consonante a área onde estamos inseridos, a saber características dos mais diversos produtos e programas informáticos com os mais diversos graus de dificuldade e diversidade.

- Boa comunicação, pois uma empresa também se destaca pela linguagem adequada, proximidade e adaptação a quem está do outro lado da linha. Somos treinados a não dizer 'Não' porque é uma palavra que inconscientemente leva o cliente ao lado negativo do assunto em questão, a não pedir desculpa porque é uma forma de admitir a culpa e dar espaço ao cliente para se sobrepor à nossa culpa e utilizá-la como 'Desculpa' ou margem de manobra para uma possível reclamação, a não utilizarmos o chamado 'Condicional' como: faria, iria, gostaria, entre outros, porque não remete o cliente ao presente e afasta-o do principal objectivo do contacto.

- Contenção, porque é preciso sabermo-nos controlar para não respondermos à falta de educação de quem está do outro lado.

- Determinação para ter a auto-motivação suficiente para conseguir atingir os objectivos ridículos a que somos propostos.

- Inteligência, para conseguir tudo isto e ainda saber lidar com os ditos supervisores, coordenadores ou gestores de campanha, que ganham tantas vezes o triplo do ordenado e nos tratam a nós, pequenos rafeiros, como números e máquinas que temos que trabalhar para atingir os tais objectivos ridículos e assegurar o ridículo ordenado deles!

No mundo do call center há várias raças de animais (e talvez assim seja mais fácil entender o que foi dito em cima):

- Temos os Rafeiros, operadores comparados a vermes que ladram mas nunca são ouvidos e estão abaixo de m*rda!; temos as Chihuahuas que desfilam o dia todo e se tornam super amigas de elementos superiores hierarquicamente para ver se conseguem o trabalho de sonho no mundo dos telefones; temos as Caniches, que ladram ladram mas não mordem, gostam mesmo só de fazer barulho, porque mais do que isso também não são capazes; temos também os Boxers, os dóceis elementos da supervisão, amigos e muito próximos dos rafeiros, que se tornam rafeiros quando ninguém está a ver; temos igualmente os Dobermans, que estão acima dos Boxers e por norma são intragáveis, só sabem a existência dos rafeiros quando é para se verem livres dos mesmos ou para apontar criticas nada construtivas, criadas e ditas só para mostrar trabalho, e por fim, existe o Pitbull, que normalmente anda isolado e que quando abre a boca faz com que todos os que foram acima mencionados se sintam rafeiros e que mostra com todas as suas forças que é superior hierarquicamente a todos os que ali dão no duro e que se esquece com frequência que um dia já foi rafeiro.

O Call Center é um mundo a parte e por vezes é desgastante. Mas é um trabalho que se for levado a sério, tráz principalmente conhecimento e experiência, é uma óptima opção para quem está a começar no mundo do trabalho e sobretudo é um intermediário imprescindível para boas oportunidades que surjem a partir do telefone e para as mais diversas áreas.

Apesar de ser um trabalho precário, foi graças a ser rafeira, que um dia tirei uma Licenciatura, comprei o meu Alfa, o meu Clio e estabeleci objectivos importantes.

Porque há uma linha que separa os sonhadores daqueles que tornam o inatingível, real. O segredo está na forma como encaramos as oportunidades!

''Continuação de uma muito boa noite. Disponham sempre''